Cinco Geossítios a Descobrir nos Passadiços do Paiva


Tipologia: exploração de recursos

Descrição: Ao longo da margem esquerda do rio Paiva, mais de oito quilómetros de passadiços em madeira permitem-nos aceder e descobrir cinco geossítios do Arouca Geoparque Mundial da UNESCO. Referimo-nos aos famosos Passadiços do Paiva, inaugurados em 2015, nacional e internacionalmente reconhecidos com a atribuição de inúmeros prémios, dos quais se destacam os «World Travel Awards», também conhecidos como os "Óscares do Turismo". 

No acesso aos Passadiços do Paiva a estrada serpenteia as montanhas. Descemos a cotas mais baixas, até à Praia Fluvial do Areinho, para iniciar esta nossa viagem. Os blocos rochosos que se erguem no leito e margens do rio correspondem a algumas das rochas mais antigas do Arouca Geopark, formadas há mais de 500 milhões de anos nas profundezas de um mar antigo. Nessa bacia de sedimentação oceânica depositaram-se, horizontalmente, camadas alternantes de sedimentos que, posteriormente, por ação de diagénese e de metamorfismo deram origem às rochas metassedimentares (xistos, grauvaques, quartzitos e conglomerados) que hoje encontramos a ocupar uma extensa área deste território chancelado pela UNESCO. Já as areias, cascalheiras e calhaus rolados que, em dias soalheiros, permitem o lazer à beira-rio, são as rochas mais recentes do Arouca Geopark (menos de 2 milhões de anos) e resultam da erosão de rochas pré-existentes arrancadas e transportadas pelos rios e ribeiras da rede hidrográfica da bacia do Paiva a montante deste local.  Sempre que ocorre a diminuição do caudal do rio, estes sedimentos acumulam-se em depósitos como os que observamos no Areinho ou, mais a jusante, no Vau e na Espiunca.

O primeiro troço dos Passadiços, com início no Areinho, leva-nos até à ponte de Alvarenga, datada do séc. XVIII, onde o rio nos acompanha num vale relativamente amplo. Porém, ao chegar ao local onde foi construída a ponte, abruptas paredes graníticas erguem-se a ladear o rio e os Passadiços, que até aqui se desenrolavam em terreno mais ou menos plano, convertem-se em escadaria. Devido à maior resistência do granito à erosão, o vale torna-se encaixado, originando a reconhecida «Garganta do Paiva», um geossítio identificado no inventário do património geológico do Arouca Geopark com o número 36 (G36). Este vale encaixado irá prolongar-se enquanto o rio atravessa o granito e até ao Vau. O granito de Alvarenga é uma rocha facilmente diferenciada pelos seus blocos acinzentados e arredondados que pontuam a paisagem, sendo particularmente notório a partir de miradouro existente nos Passadiços em frente à «Cascata das Aguieiras» (G35), mesmo por baixo da nova ponte pedonal suspensa. Esta última, designada por «516 Arouca», é a maior ponte pedonal suspensa do mundo, permitindo aos pedestrianistas uma aventura de tirar o fôlego e chegar mais próximo da «Cascata das Aguieiras», na margem direita do rio Paiva. A fraturação ortogonal inerente às rochas graníticas condicionou o encaixe das águas da ribeira da Chieira (também designada de Aguieiras), que tornam esta cascata apreciada para a prática do canyoning, modalidade de desportos de aventura, sendo que neste local os praticantes têm que ultrapassar 12 desníveis em rapel, um dos quais com 36 metros de desnível.  

Ponte suspensa

Daqui seguimos pela grande escadaria que serpenteia por entre os blocos graníticos e nos conduz até cotas mais próximas das águas do rio Paiva. Pontualmente, sobre as rochas, manchas verde-limão saltam à vista. Correspondem ao líquen Acarospora hilaris , típico de regiões com clima mediterrânico. Também os “Biospots do Paiva”, marcados por painéis informativos sobre a biodiversidade que pode ser observada ao longo do trajeto, acompanham o nosso percurso. As riquezas e singularidades biológicas deste vale, que urge proteger, justificaram a sua classificação como Sítio de Interesse Comunitário - Rede Natura 2000. Ao longo do trajeto, a diversidade de tons verdes acompanha o leito do rio Paiva, sendo marcada por uma vegetação ripícola com espécies como o amieiro, o freixo, o salgueiro-branco ou o carvalho-alvarinho. Entre outras funções importantíssimas, a vegetação contribui para a fixação e estabilização das margens.

Passadiços do Paiva_Vau

Ao chegarmos ao Vau (e sensivelmente a meio do percurso dos Passadiços do Paiva) na aproximação a nova ponte suspensa, vemos que o granito desaparece. A cor acastanhada e a forma escarpada das rochas que se vislumbram para jusante, mostra-nos que voltamos a andar sobre rochas metassedimentares. Consequentemente, o vale vai-se tornar mais largo a partir daqui, devido à maior ação erosiva do rio sobre estas rochas. A intrusão granítica, ocorrida há cerca de 300 milhões de anos, provocou ainda uma orla de metamorfismo de contacto nos metassedimentos e, por isso, alguns afloramentos pontificam uma rocha muito dura, chamada corneana.  A ponte suspensa do Vau faz a ligação entre as duas margens (para quem realiza o percurso pedestre GR 28), outrora era feita neste local por barqueiros, à semelhança de outros pontos ao longo do rio Paiva. Neste setor, na margem esquerda do Paiva, os sons da água em queda livre despertam a nossa atenção… encontramos a foz do ribeiro do Fontão, em cascata, também apreciada pelos praticantes de canyoning..

Ao percorrer os Passadiços do Paiva somos muitas vezes surpreendidos por barcos de rafting, o desporto de aventura mais praticado neste rio. As diferentes rochas do vale do Paiva e a sua erosão diferencial, diversas vezes associada a falhas, originam zonas com rápidos que garantem a adrenalina a quem se aventura a praticar os diferentes desportos de águas bravas. Entre o Vau e a Espiunca, os aficionados por estes desportos encontram os rápidos da «Parede», «Salto», «Escadinhas», «Esses», «Três Saltinhos». No segundo rápido localiza-se o geossítio «Gola do Salto» (G31), dotado de plataforma de observação que também permite, a quem circula a pé, sentir a energia das águas bravas do Paiva de uma forma mais próxima. Aqui conjugam-se duas falhas geológicas: (i) uma de direção N-S, responsável pelo alinhamento retilíneo do rio nesta zona e (ii) outra de direção NE-SW, que determina a orientação do desnível que forma o «salto», que é o mais acentuado do rio Paiva, com 3 a 4 metros. A plataforma de observação encontra-se sobre quartzitos e conglomerados e a erosão diferencial destas rochas também contribuiu para a formação do desnível onde ocorre a queda de água.  

A viagem pelos Passadiços do Paiva termina junto à Ponte de Espiunca. Na margem direita do rio, depois de se cruzar a ponte, observa-se um afloramento geológico muito didático no talude da estrada, no chamado geossítio «Falha da Espiunca» (G32). Corresponde a uma falha que intersecta uma sequência estratificada de metassedimentos, particularmente de quartzitosUma falha é uma estrutura geológica resultante de uma fratura na crosta (devida à atuação de forças) em que ocorre deslocamento de um bloco em relação a outro.  Em concreto, a falha que aqui observamos junto da placa que indica a direção de «Alvarenga», é uma falha normal, de direção NNE-SSW, que terá resultado dos movimentos distensivos ocorridos provavelmente durante a Orogenia Varisca (há cerca de 300 Ma), com possível reativação durante a Orogenia Alpina (nos último 10 Ma). À saída dos Passadiços existe um painel interpretativo que ajudará na compreensão e visualização deste acidente tectónico. O fim desta jornada merece uma visita à aldeia da Espiunca, construída nas rochas com que contactamos neste troço final dos Passadiços do Paiva, e ao seu moinho de milho e engenho de linho, recuperados nas últimas décadas, testemunho das tradições e identidade do nosso povo.   


Aspectos geotectónicos de Espiunca


Os 5 geossítios acima descritos integram o itinerário C «Paiva: o vale surpreendente» da «Rota dos Geossítios do Arouca Geopark», uma forma de explorar também o restante património geológico do Arouca Geoparque Mundial da UNESCO, que poderá percorrer com o auxílio de um livro-guia ou de visitas interpretadas por intérpretes locais.   


Sugestões para explorar a temática:

  • Informação online detalhada sobre a Rota dos Geossítios e os seus itinerários aqui.  
  • Kit «Rota dos Geossítios» que inclui o guia em papel, disponível na nossa loja online aqui.
  • Kit de Desenho «Diário de Natureza - Rio Paiva» , disponível na nossa loja online aqui.
  • Conheça com detalhe as Estações de Biodiversidade do Arouca Geopark aqui.
  • Explore os desportos praticados no Arouca Geopark aqui.